domingo, 15 de novembro de 2009

Mês da Conciência Negra


Estamos no mês da Consciência negra e para isso, estou colocando aqui um artigo que eu achei muito bom, leiam e tirem suas conclusões, beijos.


As raças não existem

As pesquisas genéticas confirmam o que historiadores e sociólogos já sabiam: a unidade da espécie humana. As raças não existem
Verônica Bercht


As ciências biológicas, assim como as ciências sociais, deram durante muito tempo estatuto científico ao racismo. Nelas, ele baseava-se especialmente na afirmação de que a espécie humana era composta de três grandes raças e cada uma delas tinha atributos intelectuais e comportamentais específicos que justificavam uma hierarquia biologicamente estabelecida. Quem pensava assim via na prática social a comprovação dessa hierarquia. O conceito de raça – ou subespécie – era, portanto, o alicerce científico para o passo seguinte, o racismo e seu corolário, a superioridade racial de um grupo privilegiado.
A principal pergunta pertinente às ciências biológicas sobre esta questão é: a espécie humana é, objetivamente, composta por raças diferentes? Respondida esta pergunta poderíamos então partir para a seguinte: uma raça é superior a outra?
Essas questões receberam respostas diferentes ao longo dos últimos 200 anos. Hoje, o desenvolvimento e o acúmulo dos conhecimentos sobre a evolução da espécie humana, fornecidos principalmente pela paleoantropologia e pela genética, estabeleceram provas irrefutáveis sobre a inexistência de raças na espécie humana e desmascararam a camisa de força imposta por cientistas para adequar a realidade à prática social e à ideologia.
Podemos identificar duas posturas bem marcadas em relação ao conhecimento científico. Uma delas considera o fato científico como a revelação da verdade. Assim, o experimento científico, ou descoberta, é apresentado como um fato isolado, sem relação com outros fatos, científicos ou não, e totalmente alheio ao desenvolvimento científico e histórico que o antecedeu, e o fato é então incorporado como uma “verdade” científica que, por sua vez, é cultuada como solução para o problema que suscitou a pesquisa.
No outro extremo estão os que percebem que as promessas feitas com base na “verdade científica” nem sempre se realizam; que sabem que a ciência é feita por homens e mulheres com suas ideologias, e que, hoje, a prática científica baseia-se nos mesmos mecanismos capitalistas que regem as sociedades atuais. Por isso, negam a validade da metodologia científica para a aproximação do conhecimento da realidade, que em última análise, para eles, é inalcançável.
Essas duas posturas, apesar de distintas, têm a mesma conseqüência: invalidam a prática científica como instrumento para o conhecimento da realidade, negam os benefícios que esse conhecimento pode representar para a humanidade e, acima de tudo, impedem a análise crítica da ciência atual. Com isso, esvaziam as propostas de luta para a democratização e socialização dos conhecimentos científicos e de suas aplicações e para a reorientação dos objetivos da prática científica, atualmente definidos pela organização capitalista e neoliberal da sociedade.
Para entendermos o estágio em que a ciência se encontra é necessário ter em mente que por trás de toda prática científica estão as idéias, que, por sua vez, são resultado do contato do homem com a natureza, com os outros homens e suas criações. As ciências biológicas não são exceção à regra. Elas também estão imersas no universo ideológico, e o debate sobre a existência de raças biologicamente definidas na espécie humana é uma demonstração de que a ciência e a ideologia são inseparáveis e de como é tortuoso o caminho que nos leva ao conhecimento da realidade. Mas, é, ao mesmo tempo, a demonstração de que a ciência pode nos dar elementos importantes para o entendimento do mundo em que vivemos e auxiliar na proposição de lutas para torná-lo mais justo e mais humano.
A origem da variedade de seres que habitam nosso planeta é uma questão fundamental das ciências biológicas. Elas têm, em sua origem, a concepção religiosa judaico-cristã que estabelecia a origem divina das espécies e, até 1858, quando Charles Darwin publicou A origem das espécies e a seleção natural, acreditava-se que elas eram fixas, criadas por Deus, e as variações entre os indivíduos de uma mesma espécie não passavam de imperfeições nas criaturas, provocadas pelas falhas do mundo material. Os mesmos argumentos explicavam a existência das raças humanas e estabeleciam os níveis hierárquicos entre elas. A versão bíblica (Gênesis 9, 18-27) conta que quando Noé e seus filhos Sem, Cam e Jafé saíram da Arca, Cam cometeu uma irreverência contra o pai que, para puni-lo, o condenou ao sofrimento no tórrido continente africano e à eterna escravidão: “Maldito seja Canaã! Que se torne o último dos escravos dos irmãos”. A descendência dos três filhos de Noé teria formado, segundo essa interpretação religiosa, as raças que se espalharam pelos diferentes continentes.
Essa concepção predominou nas ciências biológicas até mesmo depois de Darwin ter mostrado que as espécies não eram fixas, mas resultado de um longo processo de transformações sucessivas. Numa época em que, de um lado, a prática da escravidão estava no auge e, de outro, a ciência não dispunha de elementos para compreender a evolução humana – a paleoantropologia ainda engatinhava à procura de fósseis dos ancestrais humanos e não se conheciam os mecanismos de herança das características dos seres vivos – a ciência biológica européia, é bom lembrar, associava traços culturais que não conseguia entender à variedade física dos povos, alegando que eram determinados pelo clima onde esses povos viviam. Assim, os traços culturais dos povos asiáticos e africanos eram associados às suas características físicas e como essas culturas eram consideradas inferiores à cultura européia, que então procurava se impor nas diversas colônias, os povos mongolóides e negróides eram considerados inferiores.
Pode-se dizer que essas idéias predominaram nas ciências biológicas até o início do século XX, acaçapando as visões discordantes. O desenvolvimento de dois ramos das ciências biológicas, a paleoantropologia e a genética evolutiva, na primeira metade do século XX, e a ameaça representada pelas idéias nazistas e eugenistas durante a Segunda Guerra Mundial foram determinantes para destronar temporariamente aquela concepção no âmbito das ciências biológicas. E após a derrota do nazismo, mesmo biólogos conservadores, como Edward O. Wilson, um dos fundadores da sociobiologia, diziam que a noção de raça ou subespécie era tão arbitrária que deveria ser abandonada.
Não auxiliava na classificação de plantas e animais e nem no entendimento dos fenômenos evolutivos. Ao contrário, confundia-os.
A teoria neodarwinista, proposta na virada dos anos de 1940 por Ernst Mayr, Theodozius Dobzanky e Julian Huxley, reuniu a teoria da evolução proposta por Darwin com os achados de Mendel e as novi-dades da nascente genética das populações, mas ainda mantinha em suas bases o dogma da Criação. Aceitava a evolução das espécies como um processo progressivo em cuja base estão as espécies inferiores que gradativamente progridem até chegar ao ápice dominado pela figura humana, como se a evolução seguisse um plano previamente traçado. O neodarwinismo propõe que a evolução consiste no surgimento de novas variantes de genes em grupos isolados de uma espécie; essas variantes surgem ao acaso provocadas por mutações e não ocorrem de maneira homogênea em toda a espécie. Gradualmente, sob a ação da seleção natural, as variantes genéticas que conferem vantagens adaptativas aos indivíduos do grupo são incorporadas ao seu patrimônio genético. O isolamento e o acúmulo progressivo de mutações em seu patrimônio genético torna-o, ao longo do tempo, incompatível com a espécie original – definindo uma nova espécie. As raças ou subespécies, por sua vez, seriam os estágios intermediários desse processo.
Esta teoria não rompeu com as idéias racistas que, ao contrário, a evocavam para afirmar que as raças negra e amarela seriam estágios anteriores e inferiores da raça branca e inspirou correntes reacionárias, como a sociobiologia e o ultradarwinismo.
Mas o neodarwinismo expôs também a fragilidade do conceito de raça, subespécie ou variedade ao demonstrar como sua significância depende do momento do processo evolutivo de uma certa espécie. Como saber se as variações observáveis dentro de uma espécie dariam vantagens evolutivas aos seus portadores a ponto de diferenciá-los numa raça? Em que momento um conjunto de variações poderia conferir status de raça a uma população? Inspirou, também vários estudos que tentaram quantificar a variação genética entre populações de uma mesma espécie, inclusive na espécie humana. Esses estudos mostraram que a variação genética entre indivíduos de uma mesma população humana é menor do que a variação entre indivíduos de “raças” diferentes. Outros estudos demonstraram que os traços que orientam as noções de raças – a cor da pele, o formato do nariz e dos lábios e o tipo de cabelo – não são típicos de cada “raça”. Existem, por exemplo, pessoas de pele clara e pessoas de pele escura portadoras de cabelos crespos, ondulados e lisos; de nariz achatado e de nariz aquilino; de lábios finos ou carnudos. As variações genéticas para cada uma dessas características estão espalhadas em toda a população humana.


Raça, um conceito ideológico, e não biológico
A luta contra as idéias racistas foi intensa. Apesar dos avanços posteriores à Segunda Guerra Mundial, o debate sobre a existência de raças recrudesceu na década de 1970, quando foram publicados livros como O Macaco Nu, de Desmond Morris, Gene Egoísta de Richard Dawkins e Sociobiologia de Edward O. Wilson. As idéias racistas e deterministas dessas obras, fartamente divulgadas pela imprensa da época, foram atacadas por cientistas progressistas, de inspiração marxista, como Richard Lewontin, Steven Rose, Leon Kamin, Marcel Blanc, Stephen J. Gould, entre outros, que promoveram uma verdadeira campanha de divulgação de experimentos e pesquisas científicas e demonstraram como as idéias apresentadas por aqueles autores não tinham fundamentos científicos e eram, apenas, conclusões de ordem moral e ideológica.
Nessa época os livros do paleontólogo Stephen J. Gould começaram a chegar às livrarias mostrando que a teoria neodarwinista não era a única explicação para a origem de espécies novas. Uma das idéias combatidas por Gould é a de que as raças ou subespécies são estágios transitórios do processo de especiação. Ele é veemente no combate à idéia de que a evolução é um processo de “melhoramento” das espécies e de que há uma hierarquia entre elas. Ao contrário, ele defende que a seleção natural é um fator menor na origem das espécies e considera que o acaso é o principal motor da evolução. O acaso representado por catástrofes naturais, por alterações gradativas no ambiente, por mutações genéticas ou alterações mais profundas no material genético são responsáveis pelo desaparecimento da maior parte das espécies e pelo surgimento de novas.
Algumas idéias de Gould (muitas delas inspiradas em colegas que no início do século foram solapados pela força do neodarwinismo, como Richard Goldschmidt), foram reconhecidas e incorporadas por cientistas como Ernst Mayr, fundador do neodarwinismo.
Na segunda metade do século XX os achados de fósseis de ancestrais humanos acrescentaram novos argumentos contra a existência de raças ao mostrarem que a espécie humana é muito nova na face da Terra – surgiu há apenas cerca de 160 mil anos, tempo insuficiente para que houvesse se diferenciado em raças. Além disso, mostraram que o intercruzamento, ao contrário do isolamento, é uma característica da espécie impossibilitando a ocorrência do processo de especiação neodarwinista.
Atualmente, portanto, é consenso de que não existem raças biologicamente definidas entre os homens. Mesmo tendo destruído o conceito biológico de raça humana, não será a ciência que destruirá o racismo, cujas origens não são científicas e nem fazem parte da natureza humana. O racismo também não é um mero problema de atitude, um preconceito residual do tempo da escravidão, como a visão liberal tradicional deseja. As origens do racismo são ideológicas e suas bases se mantêm na medida em que o racismo reforça o sistema capitalista. As conclusões da paleoantropologia e da genética de populações, no entanto, devem ser incorporadas à luta contra o racismo com a mesma veemência que as conclusões pseudocientíficas o foram a seu favor em tempos de triste memória.
Verônica Bercht é bióloga e jornalista.



Texto da Revista Princípios ed. 79

terça-feira, 30 de junho de 2009

Hijab (véu)


Hijab (véu), quer dizer, em árabe, "o que separa duas coisas". O véu da noiva significa separar-se da vida de solteira, para entrar em uma nova vida; a de esposa.
A origem do uso do véu esta na antigüidade quando era usado como parte do vestuário feminino, principalmente pelas mulheres da nobreza, pois sua pele devia ser clara. As camponesas tinham a pele escura curtida pelo sol. A função do véu era proteger os cabelos e a pele do rosto e pescoço contra danos causados pelo sol e pelo vento.
Alguns historiadores afirmam que o véu de noiva tem origem na Grécia e depois em Roma, pois eles entendiam que que o véu protegeria a noiva dos infortúnios, dos maus espíritos e também de outros possíveis admiradores.
Na Idade Média, o uso do véu entre as mulheres dos povos Anglo-saxões se dava apenas entre as mulheres casadas, e jovens solteiras não podiam usa-lo.
O véu tem seu significado religioso no Cristianismo pois ele aparece em todas as representações de Maria, Mãe de Jesus Cristo. O uso do véu na igreja era comum antes da década de 1960.
O véu da noiva também esta ligado a mitologia, pois Ishtar, a antiga Deusa do Amor, surgiu das profundezas e os vapores da terra e do mar cobriram-na " como um véu ".
O véu é uma peça misteriosa pois ao mesmo tempo que esconde, destaca a beleza da mulher.
Existem muitas outras tradições, histórias e explicações para o uso de véu de noiva, uma das justificativas mais conhecidas fala sobre a virgindade da noiva, representada pelo seu véu branco.

Fonte: Enciclópedia do Mundo e alguns sites na net

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Origem do buquê de noiva




Prometi a uma amiga que está noiva, que postaria um pouco sobre a história dos acessórios que compõem um casamento, a começar pelo buquê de noiva, ornamento usado desde a antiguidade e que tem significado ímpar.
A tradição do buquê de noiva está ligada a simbologia da vida, já que as flores são os órgãos reprodutores das plantas, portanto está ligada a fertilidade. Acredita-se que o buquê teria surgido na Grécia como uma espécie de amuleto contra o mau-olhado e, o buquê era feito com uma mistura de alho, ervas e grãos. Esperava-se que o alho afastasse maus espíritos e as ervas ou grãos garantiam uma união frutífera.
Na Idade Média era comum a noiva fazer o trajeto a pé para a igreja e no caminho recebia flores ou ervas e temperos para trazer felicidade e boa sorte. Ao fim do trajeto ela tinha já formado um buquê e cada um destes presentes tinha um significado referente, assim os antigos romanos costumavam atirar flores no trajeto da noiva, pois acreditavam que as pétalas fariam a noiva ter sorte e dar carinho ao marido.
Na Europa, durante a Idade Média, os arranjos começaram a tornar-se mais sofisticados, devido à chegada de flores exóticas.
Na época Vitoriana, era impróprio declarar abertamente seus sentimentos, criou-se então a “Linguagem das Flores” para demonstrar suas intenções sem falar uma palavra sequer. Os buquês passaram a ser escolhidos por causa do significado das flores.
Na antiga Polônia, acreditava-se que, colocando açúcar no buquê da noiva, seu temperamento se manteria "doce" ao longo do casamento.
Antigamente havia o hábito de guardar o buquê sob uma redoma de vidro, exposto sobre algum móvel na sala ou na cômoda do quarto.

Nos dias de hoje, o buquê é essencial para que o traje da noiva esteja completo. Ele pode ser feito de flores naturais ou artificiais.
Nos casamentos realizados na parte manhã ou a tarde, é aconselhável que o buquê seja de pequeno ou médio porte e com flores do campo ou flores coloridas, já para as cerimônias a noite recomenda-se buquê maior com flores mais nobres e chamativas.
Os formatos dos buquês podem ser: pequeno e redondo, cheio e redondo, tipo cascata ou tipo braçada.
Lembre-se que os buquês em flores naturais devem ser conservados em água ou no refrigerador, dependendo da flora, até a hora do casamento.
O importante é você escolher um buquê de acordo com seu vestido e personalidade e caso você não queira se desfazer do buquê então faça outro para ser tradicionalmente jogado às convidadas. Essa tradição já era praticada na antiguidade e por isso confeccionava-se dois buquês: o primeiro, abençoado pelo sacerdote era guardado. O segundo, era lançado em direção às mulheres solteiras. Aquela que conseguir pegá-lo, teria a sorte de ser a próxima a casar.

Abaixo os significado das flores:

· Cactus: perseverança
· Copo de leite: reconciliação
· Tulipa: declaração de amor
· Coroa imperial: majestade, poder
· Margarida: inocência, virgindade
· Camélia: beleza perfeita
· Cravo amarelo: desprezo
· Lírio: pureza
· Miosótis: fidelidade
· Flores do campo: juventude
· Celósia: fertilidade
· Cravos variados: rejeição
· Crisântemo: paixão
· Rosas: amor em suas várias formas
· Dália: crescimento
· Hortência: frieza, indiferença
· Dedaleira: falsidade
· Gerânio escuro: tristeza
· Dente-de-leão: oráculo
· Gérbera: vida, energia

Fonte: SOS noivas, Superinteressante, períodicos entre outras fontes na internet.

sábado, 30 de maio de 2009

A sordidez humana

Meus amigos, estava lendo a Veja da semana passada e deparei-me com o artigo da Lya que fala da Sordidez Humana, também porque faz parte da nossa cultura o que ela escreveu e por considerar as palavras da autora minhas palavras( que pretenção), postarei aqui o artigo.

A Sordidez Humana

"Que lado nosso é esse, feliz diante da desgraça
alheia? Quem é esse em nós, que ri quando
o outro cai na calçada?"

Ando refletindo sobre nossa capacidade para o mal, a sordidez, a humilhação do outro. A tendência para a morte, não para a vida. Para a destruição, não para a criação. Para a mediocridade confortável, não para a audácia e o fervor que podem ser produtivos. Para a violência demente, não para a conciliação e a humanidade. E vi que isso daria livros e mais livros: se um santo filósofo disse que o ser humano é um anjo montado num porco, eu diria que o porco é desproporcionalmente grande para tal anjo.

Que lado nosso é esse, feliz diante da desgraça alheia? Quem é esse em nós (eu não consigo fazer isso, mas nem por essa razão sou santa), que ri quando o outro cai na calçada? Quem é esse que aguarda a gafe alheia para se divertir? Ou se o outro é traído pela pessoa amada ainda aumenta o conto, exagera, e espalha isso aos quatro ventos – talvez correndo para consolar falsamente o atingido?

Ilustração Atômica Studio


O que é essa coisa em nós, que dá mais ouvidos ao comentário maligno do que ao elogio, que sofre com o sucesso alheio e corre para cortar a cabeça de qualquer um, sobretudo próximo, que se destacar um pouco que seja da mediocridade geral? Quem é essa criatura em nós que não tem partido nem conhece lealdade, que ri dos honrados, debocha dos fiéis, mente e inventa para manchar a honra de alguém que está trabalhando pelo bem? Desgostamos tanto do outro que não lhe admitimos a alegria, algum tipo de sucesso ou reconhecimento? Quantas vezes ouvimos comentários como: "Ah, sim, ele tem uma mulher carinhosa, mas eu já soube que ele continua muito galinha". Ou: "Ela conseguiu um bom emprego, deve estar saindo com o chefe ou um assessor dele". Mais ainda: "O filho deles passou de primeira no vestibular, mas parece que...". Outras pérolas: "Ela é bem bonita, mas quanto preenchimento, Botox e quanta lipo...".

Detestamos o bem do outro. O porco em nós exulta e sufoca o anjo, quando conseguimos despertar sobre alguém suspeitas e desconfianças, lançar alguma calúnia ou requentar calúnias que já estavam esquecidas: mas como pode o outro se dar bem, ver seu trabalho reconhecido, ter admiração e aplauso, quando nos refocilamos na nossa nulidade? Nada disso! Queremos provocar sangue, cheirar fezes, causar medo, queremos a fogueira.

Não todos nem sempre. Mas que em nós espreita esse monstro inimaginável e poderoso, ou simplesmente medíocre e covarde, como é a maioria de nós, ah!, espreita. Afia as unhas, palita os dentes, sacode o comprido rabo, ajeita os chifres, lustra os cascos e, quando pode, dá seu bote. Ainda que seja um comentário aparentemente simples e inócuo, uma pequena lembrança pérfida, como dizer "Ah! sim, ele é um médico brilhante, um advogado competente, um político honrado, uma empresária capaz, uma boa mulher, mas eu soube que...", e aí se lança o malcheiroso petardo.

Isso vai bem mais longe do que calúnias e maledicências. Reside e se manifesta explicitamente no assassino que se imola para matar dezenas de inocentes num templo, incluindo entre as vítimas mulheres e crianças... e se dirá que é por idealismo, pela fé, porque seu Deus quis assim, porque terá em compensação o paraíso para si e seus descendentes. É o que acontece tanto no ladrão de tênis quanto no violador de meninas, e no rapaz drogado (ou não) que, para roubar 20 reais ou um celular, mata uma jovem grávida ou um estudante mal saído da adolescência, liquida a pauladas um casal de velhinhos, invade casas e extermina famílias inteiras que dormem.

A sordidez e a morte cochilam em nós, e nem todos conseguem domesticar isso. Ninguém me diga que o criminoso agiu apenas movido pelas circunstâncias, de resto é uma boa pessoa. Ninguém me diga que o caluniador é um bom pai, um filho amoroso, um profissional honesto, e apenas exala seu mortal veneno porque busca a verdade. Ninguém me diga que somos bonzinhos, e só por acaso lançamos o tiro fatal, feito de aço ou expresso em palavras. Ele nasce desse traço de perversão e sordidez que anima o porco, violento ou covarde, e faz chorar o anjo dentro de nós.

sábado, 25 de abril de 2009

Cinema, Mitologia e Literatura Grega


Ao longo de mais de 2.500 anos, Helena de Tróia passou por inúmeras representações, tanto no cinema como na literatura, despertando até hoje interesse em torno de sua figura. Pensando nisso a Coordenadoria Geral de Especialização, Aperfeiçoamento e Extensão (COGEAE) da PUC-SP desenvolveu o curso "Cinema, Mitologia e Literatura Grega: Helena de Tróia em Fotogramas e Fragmentos".

O objetivo é analisar, a partir de diferentes perspectivas, algumas caracterizações de Helena de Tróia em textos fundamentais da tradição ocidental - como a Ilíada e a Odisséia, de Homero, os Elogios de Helena, o de Górgias e o de Isócrates, e a Helena de Eurípides - e em filmes de renomados diretores dos cinemas europeu e americano. A partir de excertos de textos e filmes, será investigada a permanência de traços marcantes de Helena de Tróia, a fim de interpretar as alterações na construção, na passagem do texto à tela, das imagens desta mulher.

O conteúdo programático foi dividido em três tópicos. O primeiro trata de Helena de Tróia como personagem individualizada, cuja "fama do nome" vem da Grécia ao século XX; o segundo, da análise da figura de Helena como metáfora da própria mulher; e o terceiro da relação entre desejo (eros) e discórdia (eris) - neste âmbito serão examinadas, ainda, representações no romance Helena, de Machado de Assis, e em alguns poemas do século XX.

O curso tem início dia 25 de abril, com carga horária de 24 horas, divididas em seis encontros, sempre aos sábados, das 8h30 às 17h30, na Unidade COGEAE Consolação, que fica na Rua da Consolação, 881 - Consolação - São Paulo.

Mais informações e inscrições: (11) 3124-9600, www.pucsp.br/cogeae e infocogeae@pucsp.br
Fonte: História Viva

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A história oficial dos evangelhos


No 1º século do cristianismo, o excesso de versões para as palavras de Jesus não era um problema. Mas, em 178 d.C., o bispo Irineu, de Lyon, resolveu unificar a Igreja. Queria fortalecer o cristianismo e controlar melhor os fiéis. Determinou, então, que apenas 4 evangelhos contavam a história verdadeira do filho de Deus e, portanto, deveriam ser os únicos seguidos pelos cristãos. O de Judas foi descartado.

Os critérios que orientaram a escolha de Irineu foram subjetivos. O primeiro, dizem historiadores, foi a facilidade de compreensão, já que os textos precisariam ser lidos em voz alta para os fiéis – afinal, a maioria era analfabeta. O segundo ponto era a idade: os evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João estavam entre os mais antigos, escritos entre 65 e 95 d.C. O terceiro argumento foi o número 4, considerado especial por Irineu – porque havia "4 ventos e 4 direções (norte, sul, leste e oeste)", como escreveu o próprio bispo. E, por óbvia conclusão, 4 evangelhos. Deu para entender a lógica?

É claro, a história relatada no evangelho também foi levada em conta. Irineu representava o cristianismo ocidental, ligado aos legados do apóstolo Pedro, que pregou em Roma. Ele não aceitava – na verdade, rejeitava – os pensamentos gnósticos. "Os gnósticos diziam que a salvação vinha pelo autoconhecimento. Assim, acreditavam que não precisavam freqüentar cultos e igrejas ou ter um padre como intermediário. Também afirmavam que a morte de Cristo na cruz serviu para libertá-lo da prisão que era seu corpo, mas seu sofrimento não poderia salvar os homens que aderissem à Igreja Católica", diz Jacir de Faria. Na prática, a pregação gnóstica não era nada interessante para um bispo que tinha como objetivo fortalecer a Igreja. Evangelhos como o de Judas, Tomé e até o de Pedro receberam o carimbo de heréticos.

"Os líderes da Igreja queriam que o Novo Testamento fosse uma guia do que os fiéis deveriam aprender. Por isso, os 4 evangelhos oficiais são livros óbvios, claros. Os textos proibidos, não. Eles são místicos, inesperados, paradoxais, mais próximos à cabala judaica. São para iniciados que querem se aprofundar na fé", diz Elaine Pagels.

Ao fazer suas escolhas, Irineu selou o destino de Judas. Um exemplo: por que Pedro, que negou Cristo 3 vezes, jamais teve sua virtude colocada em dúvida e não entrou para a história como traidor? "Pedro, chefe da Igreja em Roma, tinha de ser o herói. A Igreja elegeu Judas como vilão já que um dos 12 deveria trair", diz o historiador Chevitarese.

"Judas serve como exemplo para amedrontar os cristãos que não seguirem o Evangelho", comenta Jacir. "O cristianismo precisa desses arquétipos. Destruí-los é mexer nas bases que o sustentam." Foi mais seguro para Irineu, portanto, ficar com os evangelhos de Marcos, Mateus, Lucas e João, que seguiam linhas parecidas e não feriam os princípios de que Pedro era o apóstolo mais próximo de Cristo e Judas, o traidor. (Para quem ficou curioso ao perceber que Marcos e Lucas não integravam a lista original de apóstolos, o esclarecimento: Marcos era sobrinho de Pedro. Lucas, amigo de Paulo, que se tornou apóstolo após a crucificação, segundo ele, "por vontade de Deus".)

Não chega a ser surpresa, portanto, que a Igreja tenha recebido com frieza a descoberta dos manuscritos. Ainda que pesquisadores como Marvin Meyer, coordenador dos trabalhos de tradução, defendam uma "reavaliação da figura histórica de Judas Iscariotes", o Vaticano veio a público negar a benção ao novo evangelho. Walter Brandmuller, presidente do Comitê para Ciência Histórica do Vaticano, chamou o texto de "produto de fantasia religiosa". E, na primeira missa após a divulgação do evangelho, o próprio papa Bento 16 fez questão de apresentar sua opinião sobre o tema. Não aliviou nas palavras. "O que deixa o homem imundo? A rejeição ao amor, o não querer ser amado e o não amar. É a soberba de acreditar que não precisa de purificação, a rejeição da vontade salvadora de Deus. Em Judas, vemos a natureza dessa negação com mais clareza. Ele valorizou Jesus segundo os critérios do poder e do sucesso", disse.

"A Igreja nunca vai aceitar a versão que absolve Judas da traição. Na visão dela, o pecado de Judas existiu e se deve ao mau uso de sua liberdade. Afinal, ele tinha livre-arbítrio para escolher não entregar Cristo. Não foi um ato inevitável, nem um fatalismo", diz o historiador da religião João de Araújo. O frei Jair de Faria concorda. "Judas somos todos nós quando traímos o projeto do Evangelho. O recado é claro: na dúvida, melhor não trair." Judas que o diga.

Fonte: Superinteressante, Edição 226,maio de 2006

sábado, 4 de abril de 2009

O mito por trás do mito tupinambá - Revista de História

O mito por trás do mito tupinambá

por Graziella Beting
DIVULGAÇÃO/Biblioteca Mário de Andrade, São Paulo
Mussa recriou relatos indígenas/ Nativos na visão de um frade francês do século XVI/Árvore de Auaí , ilustração, frei André Thevet, 1575
O frade e cosmógrafo francês André Thevet (1502-1590) foi o capelão da expedição de Nicolas Durand de Villegagnon, que esperava fundar no Brasil a “França Antártica” no século XVI. Thevet adoeceu no início da viagem e passou só 10 semanas na baía de Guanabara, entre 1555 e 1556, o que bastou para coletar informações e publicar Les singularités de la France Antarctique (As singularidades da França Antártica).

O texto se tornou um marco da antropologia por conter mais que registros da fauna e da flora do Novo Mundo. O autor fez também apontamentos sobre mitos e costumes de índios que viviam no Rio de Janeiro. Seus relatos – que dariam corpo ao tema do “bom selvagem” na França –, se tornaram valiosos registros da cosmogonia tupinambá e foram ponto de partida do último livro do escritor Alberto Mussa.

Em Meu destino é ser onça (Ed. Record, 272 págs.), Mussa faz, como explica, um “ensaio ficcional do mito tupinambá”. Partiu de fontes históricas para recontar o mito, informando o leitor de seu percurso de pesquisa. A partir das informações recolhidas por Thevet entre os tupinambá, ele seguiu pelos escritos de Hans Staden, José de Anchieta, Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e outras fontes dos séculos XVI e XVII. Num primeiro momento, reescreve a mitologia indígena – ou cria, como diz, “o mito do que poderia ter sido”, ou “o mito baseado em mitos reais”.

Graziella Beting é jornalista e tradutora

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Mascarar para revelar

Abundantes no carnaval, as máscaras são peças valiosas no teatro. Há duas décadas o Grupo Moitará desenvolve ações e pesquisas pioneiras sobre estes artefatos.
Adriano Belisário

Pioneiro na pesquisa de máscaras no Brasil, desde a confecção até sua utilização, o Grupo Moitará vê no objeto muito mais do que um adereço festivo. Ele é peça-chave da pedagogia dramatúrgica do coletivo, que tem um acervo de dezenas de máscaras feitas artesanalmente. Hoje, o grupo prepara-se para ir a São Paulo apresentar o espetáculo Quiprocó, com texto escrito coletivamente e a base de improvisações com os atores.

Fundador do Moitará ao lado da atriz Érika Rettl, Venício Fonseca vai longe quando se trata de discutir a origem das máscaras. “Na era paleolítica, os homens se travestiam de animais e mimetizavam comportamentos para se aproximar das caças. A máscara acompanha a história do homem e também está presente fora do teatro. A de carnaval, por exemplo, tem a função de esconder para permitir a transgressão”, diz o diretor de Quiprocó.

Mas as influências do grupo são mais recentes. Criada no século XVI, a commedia dell'arte é uma delas. Este tipo de teatro fazia uso intensivo das máscaras nas apresentações populares que viajavam a Europa. Porém, em meados do século XVIII, a commedia dell’arte foi assimilada pelos nobres. As apresentações passaram a ocorrer nos palácios e o gênero perdeu muito da crítica social, contribuindo para seu declínio.

No período após a Segunda Guerra, o escultor Amleto Sartori iniciou uma retomada das máscaras da commedia dell’arte, ao lado de nomes como Jacques Lecoq, Jean Louis Barrault, Giorgio Strehler, Dario Fo e Brecht. A difusão é levada adiante por seu filho, Donato Sartori. “Já trabalhava com máscara, mas de forma empírica. Quando tive contato com Sartori e outros pesquisadores, começamos a trabalhar com a pesquisa também”, afirma Venicio.

Passo a passo
No Moitará, o trabalho com novos atores começa com exercícios físicos. O primeiro contato com os disfarces se dá através da chamada máscara neutra. Influência do teatro oriental, sua aparência é simétrica e não remete a nenhuma característica particular. Ao contrário, “ela não é um personagem, mas um estado. Não tem memória, nem conflitos”, explica Venicio.

A próxima é a máscara abstrata. Com formas geométricas, ela permite ao ator trabalhar o ritmo do corpo. É seguida pela máscara larvária, que já apresenta uma sugestão de um personagem, mas ainda de forma incipiente. Os traços são como esboços, que podem misturar a aparência humana com a animal. Já a máscara expressiva revela um arquétipo mais definido, com uma história particular.

Quando familiarizados com os tipos acima, os atores utilizam a meia-máscara, que cobre apenas a parte superior do rosto do ator. Nesta etapa, além das expressões corporais, trabalha-se também a voz do personagem. Há ainda os acentos, que são pequenas modificações que visam dar destaque a certa parte do corpo, como o famoso nariz de palhaço, “a menor máscara do mundo”, segundo Venicio.

“As máscaras são feitas após um longo estudo sobre o arquétipo que se deseja construir, suas características físicas e psicológicas. Por exemplo, se a máscara for usada na rua deve ter volumes maiores para ser visível mesmo longe. Ao contrário, se apresentada próximo ao público, com uma luz direcionada, podemos trabalhar com mais detalhes”, diz o diretor. No site do grupo, é possível conferir imagens e textos sobre as máscaras.

Fonte:Revista de História da Biblioteca Nacional

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Novo lugar da África

Sabemos tão pouco sobre a África, os nosso livros didáticos não dão informações precisas, lembramos da África apenas como o lugar que os negros vieram, porém a África é mais que isto, é de uma beleza misteriosa que precisamos desvendar, não apenas os pesquisadores de História, mas todos os seguimentos da sociedade humana necessitam reaprender os significados da cultua africana. Por isso posto na íntegra o artigo abaixo, para que possamos entender um pouco dos conceitos negativos que pairam sobre a história deste continente que faz parte do mundo.


Novo lugar da África
Pesquisador lamenta a falta de interesse no continente por parte de alguns setores e afirma: "O mundo precisa mais da África do que a África do mundo".
Alex Sander Alcântara, da Agência FAPESP

Exótica, sem personalidade, problemática e carente de ações humanistas. Segundo artigo publicado na Revista Brasileira de Política Internacional, essa maneira de encarar a África não corresponde à complexa realidade do continente e trata de um discurso da vitimização, herdado do ciclo da descolonização, que não tem mais eco na atualidade.

Para José Flávio Sombra Saraiva, professor titular da Universidade de Brasília (UnB), autor do texto, a África é mais complexa, mais autônoma e ocupa um novo lugar na sociedade internacional.

“É uma das últimas fronteiras do capitalismo global, com riquezas naturais e humanas incomensuráveis. O mundo precisa mais da África do que a África do mundo. Lá estão fontes e recursos naturais necessários à sobrevivência do planeta. E suas elites, embora ruins na média geral, estão divididas”, disse à Agência FAPESP.

Autor do livro O lugar da África – A dimensão atlântica da política externa brasileira (Editora UnB, 1996), Saraiva aponta que mesmo diante da crise econômica global e das dificuldades internas de constituição de sociedades e estados modernos, assiste-se no continente africano a “um ciclo positivo”. A África poderia, inclusive, se sair bem do momento de ansiedade por que passam as economias globais.

“As economias no continente cresceram em torno de 5,6% por ano desde o início da década. Tenderão a manter parte desse crescimento nos próximos anos, pois as fontes de financiamento externo emanam dos capitais do Golfo Pérsico e da Ásia. Apesar das crises políticas, como o golpe de estado recente na Guiné, a crise política no Zimbábue ou o conflito de Darfur, assiste-se a processos positivos de democratização de regimes políticos”, disse o autor, que pesquisa o tema desde 1982 e já esteve em mais de 30 países africanos.

Segundo ele, os conceitos negativos que se perpetuam sobre o continente africano presidem parte do desenho ocidentalista patrocinado “ora por interesses de exploração de grandes grupos econômicos internacionais, ora pelas próprias elites africanas para obter recursos e meios de perpetuação do poder local”.

Saraiva não concorda com o “discurso humanista ingênuo” que guia as ações de muitos grupos não-governamentais internacionais. O continente, afirma, é mais complexo e mais autônomo do que se imagina.

“A África profunda não quer esmolas ou modelinhos de culpa ocidental, quer apoio a idéias e projetos de infraestrutura social e econômica. Os chineses aprenderam isso rápido. Estão fazendo uma infiltração muito inteligente no continente africano. O Ocidente vai ficar para trás nessa corrida”, afirmou.

O também diretor do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais aponta que o caso de Moçambique é emblemático. Segundo ele, trata-se de um país com muita probreza, mas que está se equilibrando melhor que seus pares de língua portuguesa na África subsaariana.

“Não é tão rico economicamente como Angola, mas tem práticas políticas de melhor gestão de seus recursos. Suas elites estão menos esgarçadas. É um país que vem normalizando práticas elementares de normalização da máquina pública. Assiste a crescimento relativamente sustentável e suas elites têm um certo pragmatismo na direção do aproveitamento das oportunidades das mudanças globais do momento”, afirmou.

Baixa apreciação

De acordo com o professor do Instituto de Relações Internacionais da UnB, apesar de haver uma elevação do status da África no mundo – com inserção na sociedade internacional –, existe no Brasil, paradoxalmente, uma “baixa apreciação” em relação ao continente. Cada interesse aqui, afirma, cria uma África “a serviço de jogos identitários internos do Brasil”.

“Há, por aqui, uma invenção da África que está mais ligada à história afro-brasileira do que às realidades estruturais que alicerçam a evolução de um continente imenso e muito diversificado em todos os aspectos. Inventamos aqui uma África para consumo interno, ora para elevar as Áfricas que temos dentro de nós, ora para denegri-la”, disse.

Para o pesquisador, essa confusão leva a “muito voluntarismo ingênuo de baixo impacto” no continente e a uma “espécie de autosuficiência e arrogância” ao imaginar que o Brasil tem fórmulas mágicas e modelos prontos para a África.

Apesar disso, Saraiva ressalta que o Brasil rompeu, nos últimos anos, o que chama de “silêncio atlântico”. A retomada da política de diversificação de interesses nas partes menos centrais do capitalismo global levou o país novamente à África.

“A ampliação da representação diplomática no continente e a retomada de projetos estruturais no campo mineral, petrolífero, de infraestrutura social e profissional emanaram mais do Executivo do que dos setores econômicos clássicos. Agora, há um fluxo comercial e empresarial que foi recriado pelo Executivo”, afirmou.

Segundo ele, o Brasil não pode negligenciar as relações de interesse com o continente africano. Do campo estratégico e econômico ao político, multilateral e de interesses a colher, a África é um dos destinos obrigatórios.

“Mas esse desembarque não pode ser feito contra a África, na ambição de ir para resolver problemas de identidades afro-brasileiras. Os chineses, indianos e australianos, que têm pouco de África na sua base sociocultural, estão mais vivos por lá do que nossos discursos de africanidade brasileira”, disse.

Para ler o artigo A África na ordem internacional do século XXI: mudanças epidérmicas ou ensaios de autonomia decisória, disponível na biblioteca on-line SciELO (Bireme/FAPESP)

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

História do Brasil


Na revista Klepsidra, encontrei um artigo muito interessante sobre milícias negras no Brasil. Lá no site da Revista podemos ler o artigo na íntegra, quem quiser conferir é só acessar: http://www.klepsidra.net/novaklepsidra.html


Um pedacinho do resumo que eu encontrei lá:


Francis Albert Cotta, em seu artigo Milícias negras na América Portuguesa: defesa territorial, manutenção da ordem e mobilidade social apresenta o surgimento e o crescimento da importância da participação militar de negros e mulatos nas guerras travadas por Portugal no mundo atlântico para depois de debruçar na atuação das milícias negras na região das Minas Gerais. O autor mostra como as parcelas menos favorecidas da população se inseriam nos corpos militares objetivando a ascensão social ou a resistência ao escravismo reinante, bem como as próprias estratégias militares do período foram transformadas pelas experiências prévias dos novos soldados africanos.

sábado, 30 de agosto de 2008

Navegador do outro mundo


Imagine se, em vez de português, você hoje falasse chinês — ou se Brasil fosse escrito assim: . No que dependesse de um almirante chamado Zheng He, poderia ser verdade. Entre 1405 e 1433, ele comandou uma imensa frota que percorreu a Ásia e o leste da África, até a atual Tanzânia. Faltou pouco para dobrar o Cabo da Boa Esperança, na pontinha do continente africano — o que o português Bartolomeu Dias só faria em 1488 — e achar o caminho para a América (veja mapa na página 74). Tudo isso oito décadas antes de exploradores cujos nomes o Ocidente sabe de cor, como Cristóvão Colombo.
Muitas diferenças, porém, separam as sete expedições de Zheng He das similares ocidentais. A primeira delas era bem visível: reunindo até 28 000 homens e 317 navios (alguns mais compridos que um campo de futebol), suas esquadras eram colossos flutuantes. Mais: pelo menos desde 1117 — setenta anos antes dos europeus — os chineses já usavam a bússola para navegar. Também dividiam o casco do navio em gomos, evitando que se inundasse todo em caso de acidente, truque que os ocidentais levariam séculos para descobrir.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Os japoneses no Brasil


A imigração japonesa ao Brasil foi eminentemente agrícola. Assim, sua presença no setor comercial e industrial foi muito reduzida, principalmente antes da Segunda Guerra. Na edição anterior, tratamos sobre os comerciantes; nesta, enfocamos os industriais.

A história da imigração japonesa no Brasil é a história de uma saga que ainda não terminou, e de uma das experiências bem-sucedidas de integração mais improváveis que já ocorreram no conturbado século XX.

Houve o impacto do encontro de dois povos que se desconheciam. É sabido que popularmente os brasileiros tinham preconceito contra os japoneses - um preconceito todo fundado em mistificação, uma vez que até a vinda dos imigrantes não havia um convívio de fato entre brasileiros e japoneses.

A vinda de imigrantes japoneses para o Brasil foi motivada por interesses dos dois países: o Brasil necessitava de mão-de-obra para trabalhar nas fazendas de café, principalmente em São Paulo e no norte do Paraná, e o Japão precisava aliviar a tensão social no país, causada por seu alto índice demográfico. Para conseguir isso, o governo japonês adotou uma política de emigração desde o princípio de sua modernização, iniciada na era Meiji (1868).

Na década de 70, já não era tão estranha a convivência entre as culturas japonesa e brasileira, e o número de casamentos entre etnias diferentes aumentou no país. Nessa época, o Japão se recuperou da crise econômica e passou ocupar um papel de destaque no cenário mundial. Hoje, o Brasil abriga a maior população japonesa fora do Japão.



sábado, 26 de janeiro de 2008

Nova visão de história


Lendo sobre definição de História, percebemos que a história é sempre escrita de um certo ponto de vista, ou seja, do ponto de vista do historiador, por exemplo, do europeu colonizador, claro, ele vai escrever sobre o ponto de vista do colonizador e não do colonizado, por isso na nossa história sabemos, apenas, um lado da história, o lado do colonizador, por tanto, não existe história única: há uma diversidade de história e de sujeitos sociais, cada um com seus interesses, medos e esperanças particulares, cada um transmitindo uma imagem diferente do passado, conforme sua época e o seu lugar.
Assim, a história é uma tentativa de explicar a realidade mediante testemunhas ou registros reais, a memória é formada pelo estudo de testemunhos sobre o passado de uma sociedade ou de grupos que dela fazem ou faziam parte. os imigrantes são exemplo dessa nova perspectiva de estudo. Até o início do século XX, a história estava centrada na vida das grandes personalidade do passado, como reis, generais e heróis, não perdemos o interesse em estudar essas personalidades, mas encontramos fontes de estudo na história dos indígenas, negros, jovens, homossexuais e de outros sujeitos sociais, que até então eram desprezados por historiadores.