terça-feira, 16 de março de 2010

Quem foi Glauco

QUEM FOI GLAUCO

Glauco sempre sentou na turma do fundão

No começo dos anos 70, o encontro com o jornalista José Hamilton Ribeiro, que dirigia o "Diário da Manhã", em Ribeirão Preto, tirou o paranaense Glauco da fila do vestibular para Engenharia e o jogou direto para as páginas do jornal, já com uma tira: "Rei Magro e Dragolino".

Alguns anos mais tarde, em 1976, a premiação no Salão de Humor de Piracicaba abriu as portas do jovem cartunista para a grande imprensa. Em 1977, Glauco começou a publicar suas tiras esporadicamente na Folha de S. Paulo. A partir de 1984, quando a Folha dedicou espaço diário à nova geração de cartunistas brasileiros, Glauco passou a publicar ali suas tiras.

O cartunista é autor de uma família de tipos como Dona Marta, Zé do Apocalipse, Doy Jorge e Geraldinho.

Para a estação UOL Humor, Glauco criou em maio de 2000 os personagens Ficadinha -publicada aos sábados- e Netão -publicado às terças e quintas. Netão é "uma mistura de Casal Neuras com Geraldão", explica Glauco. "Ele é um cara metropolitano, de uns 30 anos, que vive internado no apartamento e viaja pela tela do computador."

Nesses anos, as histórias se transformaram, sintonizadas com mudanças de comportamento, modas e manias, mas Glauco continua fiel ao seu traço único e desenha com nanquim no papel. Usa o computador só para colorir as tiras, depois de escanear seus desenhos. "Para meu tipo de desenho, só mesmo com a pena, que dá um traço peculiar", revela.

Ex-guitarrista, o pisciano Glauco também já inspirou personagens de outros cartunistas. Angeli baseou-se nele para criar o Rhalah Rikota, "na época em que o Glauco era seguidor do guru indiano Rajneesh", diz Angeli.

"Eles sempre me gozaram muito por causa do meu lado místico, principalmente depois que entrei para o Santo Daime", conta Glauco. "Daimista" há anos, Glauco dirige um centro de estudos que usa a bebida feita de cipó -a ayahuasca- para fins religiosos, em cerimônias inspiradas em rituais praticados por índios da Floresta Amazônica.

O cartunista Glauco Villas Boas, 53, morreu na madrugada do dia 12 de março de 2010, em Osasco (SP), junto com seu filho, Raoni Villas Boas, de 25 anos.

"Comecei a desenhar no segundo grau. Sempre desenhei na turma do fundão, que eu fui freqüentador assíduo. Desenvolvi essa linguagem e vi que era uma ferramenta muito poderosa: o humor aliado com caricatura. Desde você fazer caricatura dos professores, de algum colega de classe...

Também tive contato com o pessoal do Pasquim. Conheci o Henfil, todos aqueles desenhistas, o Ziraldo. Aquilo foi me inspirando.

Quando me mudei para Ribeirão Preto, para prestar vestibular para Engenharia -por incrível que pareça, eu ia prestar vestibular para Engenharia. Não tem nada a ver comigo. Eu levei a sorte de na época o Hamilton Ribeiro, que é um grande jornalista, estar dirigindo o "Diário da Manhã", um jornal de Ribeirão Preto. Ele viu meu trabalho, gostou muito, e me contratou para fazer uma tira diária. Assim começou minha profissão.

Essa primeira tira era o Rei Magro e o Dragolino. Era um rei muito louco, que vivia fumando um baseado, e o Dragolino enfrentando ele. Era essa dupla, num universo de hippie, de rock.

Na época estava no auge do Salão de Humor de Piracicaba, em 1976. Fui premiado e isso me abriu as portas para a grande imprensa, principalmente para a Folha de S. Paulo. Em 1977 comecei a publicar esporadicamente na Folha. No Acontece. Também estava surgindo o Folhetim, que o Tarso de Castro dirigia, e o Angeli era responsável por uma seção de humor na contracapa, que chamava Viralata. Aí eu comecei a publicar toda semana nessa seção. Foi esse o começo na Folha.

Em 84, a Folha criou a seção de quadrinhos para desenhista nacional e, com aquela lei de 50% do espaço para o pessoal da casa, a gente começou a desenvolver pela primeira vez a tira nacional diária, para competir com a americana."


"O Angeli sempre tirou muito sarro de mim porque eu sou muito místico. Sou pisciano. Sempre gostei da linha espiritual, de estudar. Depois que eu comecei a freqüentar o Santo Daime -que é uma bebida que vem lá da Amazônia, que os índios consagram-, eles (Angeli e Laerte) tiraram muito sarro dessa minha nova jornada. Chegaram a fazer história sobre o Glauquito, que montou uma religião, encontrou suas raízes, montou uma seita e fez um chá com as suas raízes.

O Rhalah Rikota eu não tinha antenado que o Angeli tinha feito especialmente para tirar um sarro mas, com essa confissão dele eu me sinto muito honrado.

Eu sou daimista. Criamos um grupo de estudo e passamos a receber o Daime lá da floresta. É um centro de pesquisa espiritual. O Daime tem um potencial de cura muito grande.

Eu coordeno o ritual, que é bastante musical. São vários hinos, recebidos pelos caboclos lá da mata, que a gente executa depois de ter ingerido o Daime. A gente faz um trabalho musical e dentro desse trabalho musical as pessoas vão estudando, dentro da força do Daime, porque ele é um expansor de consciência.

O Daime me trouxe muita disciplina, principalmente com meu trabalho de cartunista, do traço. Também relacionado à saúde, porque eu era muito exagerado, boêmio, e isso atrapalhava o meu dia a dia. O traço é uma coisa que você precisa estar harmonizado com você mesmo. Nesse sentido, senti uma evolução muito grande, no meu trabalho e em todos os aspectos da minha vida."

(Reportagem-Mara Gama)

Homenagem a Glauco

Pessoal, eu adoro charges, todo mês procuro na revista da biblioteca postar as charges antigas que fizeram história. Quero aproveitar este espaço para homenagear o cartunista Glauco, que foi brutalmente assassinado junto com seu filho, este fato marcará a história dos quadrinhos no nosso país, gostaria de relembrar suas charges irreverentes, críticas, sarcásticas, humoradas, etc...

Perdemos um dos maiores cartunistas da história deste país. O Glauco sempre foi uma das minhas maiores referências, pelo trabalho, pela pessoa, por tudo e agora minha sensação é de que todos nós viramos um bando de órfãos. Muita tristeza. (Galhardo)

Publicações



Glauco publica em UOL Humor dois de seus personagens: Netão e Ficadinha. Às terças e quintas é a vez do Netão e, aos sábados, da Ficadinha. No jornal Folha de S.Paulo, Glauco tem seus outros personagens publicados diariamente na Folha Quadrinhos e, três vezes por semana, ocupa a Página 2, de editoriais, com Charges Políticas. Glauco também colabora mensalmente com quadrinhos do Geraldinho para a Folhinha, o suplemento infantil da Folha de S. Paulo.

Glauco já publicou três livros. "Minorias do Glauco" foi o primeiro, independente, lançando em 1981. Pela Circo Editora, o cartunista publicou "Geraldão" e "Abobrinhas da Brasilônia". Também pela Circo Editora, Glauco lançou entre os anos 80 e 90 cerca de 40 revistas do "Geraldão".

GERALDÃO

Frase do mês

“É cada vez mais difícil vender a alma ao Diabo, por excesso de oferta.”
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), poeta.


Adorei a capa da revista da Biblioteca Nacional do mês de março, alem da máteria principal, que postarei um fragmento...

Para vencer na vida
Mesmo sofrendo os horrores do tráfico negreiro e da escravidão, uma africana conseguiu comprar sua liberdade, adquirir bens e ainda abrir um processo de divórcio
Juliana Barreto Farias

A travessia do Atlântico durava mais de dois meses. Espremidos nos porões dos navios negreiros, milhares de homens, mulheres e crianças suportavam calor, sede, fome, sujeira, ataques de ratos e piolhos, surtos de sarampo ou escorbuto. Muitos não resistiam, e acabavam jogados ao mar. Mas nem mesmo tantos maus-tratos impediam o nascimento de novas vidas. Em princípios do século XIX, uma jovem africana que estava vindo para o Rio de Janeiro deu à luz em plena viagem. Foi seu filho, Manoel José da Conceição Coimbra, quem lembrou essa história muitos anos depois.

Para provar que a africana, batizada no Rio com o nome de Rita Maria da Conceição, era mesmo sua mãe, ele juntou fios de histórias que ainda guardava na memória a alguns registros escritos, como certidões de batismo, casamento e óbito. O relato – anexado ao processo que abriu em 1846, para garantir a herança materna, na Vara Cível do Rio de Janeiro – podia até parecer seco e muitas vezes impreciso. Ainda assim, reconstituía, como poucos, parte de suas experiências naquele “infame comércio” de africanos.

Rita saíra de Cabinda, no Centro-Oeste da África, ao norte do Rio Zaire. Boa parte dos negreiros que chegavam ao Rio de Janeiro vinha dessa região. Ao cruzarem o oceano, eles deixavam para trás pátria, família, casa e deuses; tinham que encarar uma nova vida numa terra desconhecida. Mas já nos “tumbeiros” (como também eram chamadas essas embarcações), começavam a formar novos laços.

A jovem africana e seu filho recém-nascido conseguiram aportar na capital do Império brasileiro. Segundo Manoel José, “chegando a esta cidade o navio em que vinham”, foram vendidos “no Valongo a Miguel José Taveira, que fez batizar a ambos por seus escravos”. Acomodados num dos armazéns que se espalhavam pela Rua do Valongo, maior entreposto de comércio escravista do país, devem ter ficado por algum tempo expostos à curiosidade dos possíveis compradores. Arrematados por um senhor português, logo receberam nomes cristãos na igreja da freguesia de Santana: Rita e Manoel José. (...)

Leia a matéria completa na edição de Março, nas bancas.


Charge do mês


Na capa de O Malho de 1º de maio de 1920, o gênio brasileiro da caricatura, J. Carlos, brinca com as comemorações do Descobrimento (naquela época, comemorava-se a data no dia 3 de maio). De Cabral aos nossos “papagaios” congressistas, uma crítica rimada de algumas mazelas nacionais:

“A nau descobre / A mensagem encobre / O Congresso e o cobre”.


Fonte: Revista da biblioteca Nacional