quinta-feira, 4 de junho de 2009

Ícone da luta pela independência, Cachoeira (BA)

Adriano Belisário

Outrora gloriosa, Cachoeira (BA) está recuperando os ares de prosperidade. Segunda maior cidade do estado por mais de trezentos anos, o município é desenhado por uma arquitetura barroca que ecoou os primeiros gritos de independência do Brasil. A relevância histórica do local, que lhe valeu o título de "heróica", não impediu o descaso com seu patrimônio ao longo do século passado. Mas, agora, reformas recentes e a criação da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) injetam novo fôlego na região. No dia 25 de maio, esta instituição inaugurou o campus Quarteirão Leite Alves, que concentrará os cursos de letras e ciências humanas.

Oficialmente criada em julho de 2005, a UFRB contou com grande apoio do Monumenta. Charutaria no século XIX, o prédio do Quarteirão foi reformado por este projeto do Iphan/Ministério da Cultura. Cachoeira está entre as cidades que mais receberam recursos do programa, que lá investiu cerca de R$ 36 milhões. O edifício do Quarteirão localiza-se próximo à ponte D. Pedro II, cujos ferros cruzam o Rio Paraguaçu levando gente e trem à cidade de São Félix.

Durante a inauguração, a eleição de 2010 já parecia próxima por conta das faixas do PT e partidos aliados, que estavam espalhadas pelos arredores do Quarteirão, e o coro “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” entoado pela população local, que compareceu em peso à solenidade. O contraponto ficou por conta de alguns manifestantes que empunhavam cartazes pedindo mais laboratórios e professores.

"É importante reclamar. Mas agradeço a Deus ter uma boca e duas orelhas. Aqui tem pessoas muito mais letradas que eu, mas pesquisem se teve algum governo que fez 50% do que eu fiz para a educação", rebateu Lula. O presidente ainda improvisou: - Tem gente que não dá valor para restauração de prédios, assim como tem filho que não dá valor para um prato de comida. Diz que está ruim, mas não sabe o trabalho que a mãe teve para colocar aquilo lá.

A Universidade do Recôncavo foi proposta em 2002 pelo reitor da Federal da Bahia, o médico Naomar Monteiro. A instituição já possuia um campus no interior do estado: a Escola de Agronomia na cidade de Cruz das Almas. Após quatro anos, a UFRB iniciou suas atividades, com as aulas em Cachoeira sendo ministradas no anexo de uma escola estadual de Cachoeira e no edifício da Fundação Hansen Bahia, imóvel também recuperado pelo Iphan.

Na restauração do Quarteirão, só foram aproveitadas a fachada e poucas paredes internas do prédio. “Em 2003, Cachoeira era o maior centro histórico em pior estado de conservação do país”, lembrou Luiz Fernando. Algo distante do cenário onde figura o campus recém-inaugurado, que tem capacidade para abrigar 600 alunos dos três mil inscritos na Universidade do Recôncavo. Já em junho, o prédio será utilizado pela parte administrativa da instituição. As aulas serão transferidas para lá no segundo semestre deste ano.

Mas nem tudo está resolvido. “Apesar de termos muitos projetos sobre região, ainda são poucos os alunos de Cachoeira e São Félix na Universidade. Deveria ter uma intervenção maior nas escolas da região”, pondera Fábio Joly, professor da UFRB. Ministro da Educação, Fernando Haddad disse na entrega dos prédios que o governo anunciará em breve investimentos no setor de extensão daquela instituição.

Coordenado pelo historiador Antonio Liberac, o curso de História da Universidade do Recôncaco, ao qual Fábio também pertence, possui 13 docentes. Oriundos das mais diversas regiões do Brasil, eles estão, de fato, vinculados ao Centro de Artes, Humanidades e Letras, uma vez que lecionam também em outras graduações oferecidas pela Universidade, como Museologia e Ciências Sociais.

Segundo Joly, um entrave para as pesquisas é a restrição de acesso ao público do arquivo de Cachoeira, que encontra-se fechado. Porém, a demanda de consultas que será gerada pelas atividades do curso de História pode pressionar os responsáveis pelo acervo a mudarem esta situação. Reitor da UFRB, Paulo Gabriel diz que, do mesmo modo, o fluxo de pesquisadores criará uma circulação de ideias e atividades favoráveis à revitalização da cidade. A expectativa é que voltem os tempos heróicos do imortal vapor de Cachoeira e o local novamente torne-se um pólo de manifestações culturais.


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