sábado, 7 de março de 2009

Política na cadeia


Não é de hoje que política e criminalidade caminham lado a lado. Nos tempos da Colônia, era comum que o mesmo prédio abrigasse a Câmara e a cadeia local. Em São João da Barra, norte do estado do Rio de Janeiro, essa divisão era ainda mais tênue.

Diz a lenda que havia um alçapão de madeira no púlpito da Câmara, sobre o qual os vereadores se manifestavam. Caso o discurso desagradasse às autoridades, puxava-se uma alavanca e o parlamentar era jogado direto em uma das celas da cadeia, que ficava logo abaixo.

Não restam vestígios do alçapão. E daqui a pouco até o prédio pode virar lenda. Ele começou a ser construído em 1747 e só foi concluído em 1794. Suas paredes de 1,5 metro de espessura foram feitas com massa de óleo de baleia e tinham grades triplas nas janelas. Um túnel subterrâneo – chamado de “fujo” pelos locais – ia do prédio até o Rio Paraíba do Sul.

A última reforma se perde no tempo. “Foi em 1974, e mesmo assim o Iphan deixou muita coisa de lado”, conta o jornalista Carlos Sá, morador da cidade. Uma varanda de madeira deteriora-se a olhos vistos. “Além disso, são realizados shows de música popular ao lado, e as vibrações estão fazendo o reboco e as telhas caírem”, alerta. Pela memória de todos aqueles que lá pagaram suas penas ou curtiram seus mandatos, a casa de Câmara e cadeia de São João da Barra merece permanecer de pé.

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