sábado, 30 de agosto de 2008

Patrimônio em perigo


Um incêndio que destruiu a Igreja Nossa Senhora Aparecida, primeiro templo de Brasília, erguido em 1956 pelos nordestinos que construíram a cidade. Na época, o governo do Distrito Federal prometia erguer, no lugar, uma réplica fiel da construção.

Promessa cumprida. Depois de sete meses e 250 mil reais investidos na reconstrução, ficou de pé, em julho, a nova versão da igreja, na mesma praça da Vila Metropolitana. Todo mundo satisfeito? Nem tanto. O poder público parece ter se inspirado na arte de copiar o original, e manteve também inalterado o pouco caso com que trata desse patrimônio. Quem diz é Glorinha Bonfim, ativista que denunciou o incêndio do ano passado e continua na luta pela preservação da igreja: “Não há nenhum programa que se possa divulgar. Sei apenas de ações isoladas de alguns interessados”.Preocupante mesmo é ouvir queixas quanto ao desinteresse do governo da boca de seu próprio representante. José Carlos Coutinho, diretor do Departamento de Patrimônio Histórico e Artístico do Distrito Federal (DePHA), diz que a reconstrução da igreja “poderia ter acabado antes se não fosse a burocracia” e, pior, que este não é um caso isolado. “Todo o patrimônio de Brasília está ameaçado.
Até a Praça dos Três Poderes está sujeita a essa situação”, afirma Coutinho. Ele reclama que faltam recursos e pessoal para que o órgão cumpra sua função de “manter constante vigilância”. E lamenta: “A cultura não é e nunca foi prioridade de nenhum governo. O que podemos fazer é não esmorecer e continuar lutando com os recursos que temos”.O desanimador discurso oficial pode ajudar a entender o que houve com a Igreja Nossa Senhora Aparecida. Como preservar “não é prioridade”, deixa-se ruir e depois faz-se uma obra para botar uma réplica no lugar. Quem sabe, em breve, estaremos aqui reivindicando a réplica da réplica.

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