
Nos primeiros anos da colonização da vila de São Paulo ainda não havia mulheres brancas. Todas as uniões ocorriam entre portugueses, espanhóis ou outros europeus e as cunhãs indígenas. Os jesuítas Manuel da Nóbrega e José de Anchieta, muito incomodados, relataram em suas cartas que esses laços prescindiam do sacramento da Igreja Católica, além de muitos serem temporários e poligâmicos. Houve grande esforço dos padres no intuito de regrar a vida dessa população. Impuseram, portanto, o batismo, a catequese e o uso de roupas para os índios, além do sacramento do matrimônio monogâmico e indissolúvel às famílias.
A vida dessas mulheres é pouco documentada, pois, além de não terem propriedades, elas se tornavam a propriedade de alguém. Como tendência geral, os colonos não devolviam os indígenas "alugados" aos jesuítas, tornando-os escravos de fato, embora na documentação apareçam propositadamente declarados como "forros" ou "administrados". Todas essas índias viviam o dia-a-dia de trabalhos pesados da família de seus proprietários, com quem se envolviam como concubinas. Mais tarde, teriam a seu lado, nas lides da escravidão, africanas que começaram a ser introduzidas na região paulista no correr do século XVII, quando houve condições econômicas de começar a comprar "negros de verdade", enquanto algumas "negras da terra", escravas ainda, seguiam os bandeirantes para o sertão.
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Embora careça de mais estudos, o papel das mulheres no período das bandeiras paulistas era multifacetado e surpreendente. A chave para compreendê-lo melhor reside no fato de que seus pesquisadores trabalham com três níveis. O primeiro é o da vida que as mulheres levaram. O segundo é o das expectativas a que foram submetidas - de serem dóceis, submissas, honradas, fiéis, laboriosas, boas esposas e mães, engenhosas para administrar suas propriedades na ausência do marido - e que nem sempre atenderam. O terceiro, por fim, é o da idealização a que vários historiadores submeteram essas personagens históricas. Resgatar a valentia e a determinação que existiram ao lado da docilidade e obe-diência, concede a elas a garantia de sua presença na história paulista.
Por Madalena Marques Dias
Para saber mais: http://www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?id=1544
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