terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O verdadeiro Asterix foi derrotado por César


O líder histórico dos gauleses que inspirou a criação de Asterix, liderou a resistência contra Roma. Derrotado no campo de batalha, e forçado a se render, sua epopéia foi transformada em mito a serviço do nacionalismo francês
por Paul M. Martin

Vercingetorix se entregado para César. Os relatos do imperador romano imortalizaram e enalteceram seu inimigo Vercingetorix joga suas armas aos pés de César, oléo sobre tela, Lionel Noel Royer, 1899, Museu Crozatier, Le Puy-en-Velay
Vercingetorix cruzou a história como um meteoro. Sua principal epopéia durou apenas nove meses do ano de 52 a.C.. Ela foi narrada no último livro de César sobre sua conquista das terras onde hoje existe a França, a Guerra das Gálias. Muitos séculos depois, esse chefe gaulês se transformaria em um mito fundador da história francesa, e depois em ícone mundial, ao servir de inspiração para o personagem de história em quadrinhos Asterix.

O historiador latino Florus descreveu o líder gaulês como “aterrorizante por seu aspecto físico, por suas armas e por seu caráter”. Para o grego Dion Cassius era “impressionante por seu tamanho e por suas armas”. Nesses dois retratos estereotipados, reconhecemos o lugar-comum da Antigüidade clássica sobre os gauleses: todos eram grandes e assustadores. E loiros, de pele branca, cabelos longos, bigode, comiam e bebiam muito, enfim, verdadeiros gauleses de quadrinhos! O único que viu Vercingetorix e que poderia fazer uma descrição física apropriada foi César. Mas este preferiu falar sobre seu caráter.

Vercingetorix possuía um imenso carisma e grande eloqüência: não desprezava a demagogia, que era a maneira pela qual convencia sua assistência como bem entendia. Possuía um autêntico gênio militar, e um instinto impressionante para compreender e neutralizar a estratégia do inimigo. Um adversário digno de César que poderia ter mudado o destino da guerra em favor da rebelião gaulesa. Vercingetorix também parecia desprovido de qualquer escrúpulo ou senso moral. Em muitas ocasiões fingiu, mentiu para suas próprias tropas ou para seus aliados; e agiu, contra inimigos e companheiros de armas, com uma crueldade e desprezo pelo outro que só tinha como possível justificativa a eficiência militar. Naturalmente, a guerra nunca foi parecida com o mundo colorido dos quadrinhos. E é claro que se César reconhecia o valor do adversário, tinha interesse em ressaltar os traços negativos de sua personalidade.

Paul M. Martin é historiador, especialista em Antigüidade e professor da Universidade de Montpellier-III.


Achei este artigo na revista História Viva, postei porque sempre pensei que Aterix era um personagem de revista em quadrinhos.

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