terça-feira, 3 de novembro de 2009

O Império vai ao Oriente


A historiadora Monique Sochaczewski Goldfeld está a caminho da Turquia para estudar as relações do país com o Brasil
Rodrigo Elias

Em maio deste ano, por ocasião da sua passagem pela cidade turca de Istambul, o presidente Lula afirmou que “o último mandatário brasileiro que esteve na Turquia [na época, parte do Império Otomano] foi o imperador d. Pedro II, em 1865”, e, segundo o presidente, “não deixou saudade”. Para além do fato de d. Pedro II não ter sido mandatário – já que o poder monárquico no Brasil era hereditário – e da viagem não ter ocorrido em 1865, mas em 1876, restam ainda muitas incompreensões nas relações entre os dois países.

É para esclarecer estes e outros fatos que Monique Sochaczewski Goldfeld, professora da Escola de Ciências Sociais da Fundação Getúlio Vargas (RJ), está fazendo as malas para se instalar por seis meses na capital turca, Ankara.

Monique, que faz doutorado em História, Política e Bens Culturais no CPDOC, desenvolve uma comparação entre o Brasil e o Império Otomano entre 1856 e 1923. Considerados “impérios periféricos”, os países buscavam reconhecimento na sociedade internacional.

Um dos pontos de interesse da estudiosa é “a maneira como cada qual se relacionou com o grande império de então, a Grã-Bretanha”. Mas a pesquisa pode trazer muitos elementos ainda desconhecidos tanto para os especialistas como para o público mais amplo: “Estou interessada tanto na documentação do Halil Inalcik, um dos maiores especialistas na história do Império Otomano, depositada na Bilkent University, quanto nas fotografias do sultão Abdul-Hamid II, armazenadas na biblioteca da Istanbul University, que acredito dialogar com a Coleção Teresa Cristina, da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro”.

Ao contrário do presidente, a pesquisadora suspeita que a passagem do governante imperial brasileiro deixou marcas no Oriente Médio. “O imperador, acompanhado do conde de Gobineau, encontrou-se rapidamente com o sultão Abdul Hamid II na mesquita de Hagia Sofia em 1876. Imagino encontrar mais dados sobre esse encontro na Turquia e daí averiguar como foi recebida na época. Depois disso ele viajou por diversas outras províncias do Império Otomano, como Líbano, Palestina e Egito.”

Segundo a estudiosa, “ainda são poucos os especialistas brasileiros sobre a região, embora já existam experiências bem interessantes, como o Núcleo de Estudos do Oriente Médio, da Universidade Federal Fluminense”. É necessário – completa Monique – que a academia acompanhe o interesse que o país vem mostrando pelo Oriente Médio nas suas relações políticas.

Fonte: revista da Biblioteca Nacional

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