sábado, 8 de agosto de 2009

O planeta Diário


A antologia do jornal humorístico O Planeta Diário (1984-1992) desperta saudade dos tempos em que o politicamente correto não era uma imposição quase policialesca. É incrível que aquelas piadas escrachadas sobre gays, negros, judeus, cegos e anões pareçam tão anacrônicas — e não porque hoje tenham menor força, justo pelo contrário: são ousadas demais para os tempos atuais.

Nascido junto com a redemocratização, o jornal testou todos os limites da liberdade de expressão. Não só no terreno sexual e dos preconceitos, mas no escárnio sem freios para cima de toda e qualquer figura pública ou acontecimento jornalístico. Esta é a relevância histórica do livro: trata-se de um testemunho daquela primeira década da Nova República pela ótica da ridicularização. Revela os bastidores da notícia, o que se falava nas mesas de bar, as piadas que se ouviam nas ruas. Como uma das grandes questões nacionais do governo “Cheirando Collor de Mello”: “Quem está comendo a Zélia?”. Ou o “depoimento” de Jânio Quadros: “Os comunistas caíram porque não sabiam beber”. Sobre o desastre radioativo com o césio-137, em 1986, estamparam na manchete: “Cadáveres de Goiânia estão fora de perigo”. Sobre a lisura dos institutos de pesquisa, garantiram: “113,7% dos eleitores acham que pesquisas estão erradas”.

Versáteis no formato — de horóscopo a colunismo social, passando por fotonovelas, entrevistas e conselhos sentimentais —, aqueles jovens entendiam do riscado: escreviam bem e faziam rir fácil. Influenciaram uma geração de humoristas nos anos 1990, a quem ensinaram a não levar ninguém a sério. Principalmente quem se leva a sério demais. Mesmo sem ter esta intenção, o humor à la “casseta” fortalece a democracia.

( Resenha de Lorenzo Aldé)

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